Escrevi esse texto no dia da morte do compositor. Eu tinha 33 anos. Foi a primeira vez que chorei por causa da morte de alguém.
sábado, 20 de setembro de 2025
sexta-feira, 19 de setembro de 2025
quinta-feira, 11 de setembro de 2025
quarta-feira, 10 de setembro de 2025
quinta-feira, 4 de setembro de 2025
"Imensidão Azul" é também sobre autismo
Sempre gostei muito desse filme e agora que tive meu diagnóstico de autista consigo entender melhor os motivos.
quarta-feira, 3 de setembro de 2025
"ALIEN EARTH": Episódio 5 é mais suco de merda
Ponto alto deste episódio é uma luta livre entre o Alien e um humano controlado pelo mini-polvo, cena digna de Os Três Patetas.
sexta-feira, 29 de agosto de 2025
"ALIEN EARTH": episódio 4 é puro suco de merda!
Série vai ficando cada vez mais ridícula e sem sentido, mas ao menos dá pra rir um pouco de tanta besteira.
quinta-feira, 21 de agosto de 2025
quarta-feira, 13 de agosto de 2025
"ALIEN EARTH": dois primeiros episódios decepcionam
segunda-feira, 4 de agosto de 2025
"Highlander: O Guerreiro Imortal" fracassou nos cinemas, mas virou cult

- por André Lux, crítico-spam
Ninguém poderia prever que HIGHLANDER - O GUERREIRO IMORTAL tornaria-se um filme cultuado, gerando uma legião de apreciadores, três continuações (progressivamente piores) e uma série de TV.
A verdade é que se trata de uma produção europeia lançada discretamente nos cinemas que nunca teve a repercussão merecida na época, principalmente no mercado dos EUA (onde passou sempre em versão reduzida). Mas, devido à propaganda boca-a-boca, o filme foi logo ganhando status de cult, transformando-se em sucesso principalmente após seu lançamento em VHS.
Esse sucesso é justificado por vários motivos, entre eles o roteiro bem amarrado e original que centra a ação no personagem interpretado por Christopher Lambert (na época ainda com pretensões de ser ator sério), um sujeito estranho e solitário, que em plena Nova York do século 20 revela-se um imortal vivo há mais de 600 anos. Outros imortais começam a surgir na trama e, aos poucos e entre muitos flash-backs, ficamos sabendo que estão todos lutando entre sí para conquistar um prêmio desconhecido.
O grande mérito de HIGHLANDER, entretanto, está na direção brilhante e criativa de Russel Mulcahy (que nunca mais fez nada que prestasse, fazendo pensar que acertou aqui mais por acidente do que por competência), que transforma o filme em um espetáculo visual de primeira linha, mesmo sem contar com um grande orçamento.
HIGHLANDER tem ainda um dos vilões mais memoráveis do cinema: o cruel e sarcástico Kurgan, interpretado com impressionante vigor por Clancy Brown. De quebra ainda traz Sean Connery esbanjando carisma e vitalidade como Ramirez, um imortal "do bem", nessa que foi uma de suas primeiras participações especiais.
O filme é valorizado também pela trilha sonora de Michael Kamen (BRAZIL) e pelas canções do grupo Queen, num dos raros momentos em que a inclusão de música pop em filmes não atrapalha.
Vale a pena conhecer a versão integral do filme, que traz cerca de dez minutos de cenas adicionais, inclusive uma sequência situada na Segunda Guerra Mundial que explica a origem do slogan "It's a Kind of Magic" (é um tipo de mágica).
Cotação: ****
"Fantasmas de Marte" tem gosto de café requentado e decepciona

- por André Lux, crítico-spam
O diretor John Carpenter já foi um dos mais inventivos e inquetos cineastas de Hollywood, criando gemas como HALLOWEEN (um dos filmes independentes mais bem sucedidos da história) e o super imitado FUGA DE NOVA IORQUE, nos quais seu humor ácido e corrosivo bem como um toque sempre subversivo formavam um charme à parte.
Esses ingredientes certamente também estão presentes nesse FANTASMAS DE MARTE, mas aqui Carpenter já dá claros sinais de cansaço e falta de criatividade, justamente o esteio de sua obra. Não adianta criticar o filme por sua pobreza ou excesso de violência, já que toda a obra do diretor é permeada por produções feitas "nas coxas" com baixo orçamento, sempre flertando com o cinema B e o trash puro e simples (exceto THE THING e OS AVENTUREIROS DO BAIRRO PROIBIDO, ambos bancados por um grande estúdio mas que fracassaram nas bilheterias e impediram a carreira do diretor de deslanchar).
Mas Carpenter sempre driblou essas limitações com altas doses de exotismo e subversão dos gêneros - quem não se lembra do anti-herói ranheta Snake the FUGA DE NOVA IORQUE ou dos aliens de ELES VIVEM dominando a raça humana por meio de mensagens subliminares em cartazes e na TV? E essa veia distorcida também está presente em FANTASMAS DE MARTE, seja na sociedade matriarcal do futuro (onde homens não tem vez), seja na caracterização da heroína viciada em drogas e lésbica ou mesmo na motivação dos "vilões" que na verdade estão apenas reagindo a uma invasão de seus territórios.
O problema aqui é a total falta de criatividade do roteiro do próprio diretor, que se limita a refilmar um de seus primeiros longas, ASSALTO À 13º DP, que já não era nada mais do que uma releitura do western clássico RIO BRAVO, de Howard Howks, contando basicamente a mesma história: um grupo de policiais e civis é encurralado dentro de uma delegacia por uma gangue de bandidos que querem matá-los. A única diferença é que o filme passa-se em Marte e os vilões são humanos cujos corpos foram possuídos pelos antigos moradores do planeta.
Essa falta de novidade ou frescor deixa o filme com um gosto de café requentado, impedindo o espectador de envolver-se na trama ou interessar-se pela sorte dos heróis - mesmo porque fica claro desde o início que todos morrem, exceto a policial feita pela bela Natasha Henstridge que conta a história em flash-back. Outro erro foi a escolha do inexpressivo e obeso rapper Ice Cube para interpretar o marginal "Desolation" Williams, que acaba ajudando os heróis mesmo com relutância. Sua falta de carisma e impassividade prejudicam o desenrolar do roteiro, deixando tudo ainda mais frio e inócuo.
Os zumbis-marcianos também não convencem, limitando-se a grunhir e urrar sob efeitos de maquiagem que os deixam parecidos com um bando de metaleiros enlouquecidos - a figura central já é um sósia do grotesco Marilyn Manson. Mesmo a trilha sonora, do próprio Carpenter, é repleta de solos de grupos heavy-metal como Anthrax, Buckethead e Steve Vay, acentuando ainda mais o clima de total non-sense e loucura.
Obviamente não é o tipo de filme que deva ser levado a sério ou analisado profundamente, já que o próprio Carpenter parece ter orgulho de ter virado uma espécie de "Rei do Trash". Até ai tudo bem. Infelizmente em FANTASMAS DE MARTE nada funciona muito bem e o filme acaba sendo apenas uma aventura com toques de terror banal, sem grandes lances, sacadas ou reviravoltas que justifiquem sua produção. Uma verdadeira decepção.
Cotação: **
Esses ingredientes certamente também estão presentes nesse FANTASMAS DE MARTE, mas aqui Carpenter já dá claros sinais de cansaço e falta de criatividade, justamente o esteio de sua obra. Não adianta criticar o filme por sua pobreza ou excesso de violência, já que toda a obra do diretor é permeada por produções feitas "nas coxas" com baixo orçamento, sempre flertando com o cinema B e o trash puro e simples (exceto THE THING e OS AVENTUREIROS DO BAIRRO PROIBIDO, ambos bancados por um grande estúdio mas que fracassaram nas bilheterias e impediram a carreira do diretor de deslanchar).
Mas Carpenter sempre driblou essas limitações com altas doses de exotismo e subversão dos gêneros - quem não se lembra do anti-herói ranheta Snake the FUGA DE NOVA IORQUE ou dos aliens de ELES VIVEM dominando a raça humana por meio de mensagens subliminares em cartazes e na TV? E essa veia distorcida também está presente em FANTASMAS DE MARTE, seja na sociedade matriarcal do futuro (onde homens não tem vez), seja na caracterização da heroína viciada em drogas e lésbica ou mesmo na motivação dos "vilões" que na verdade estão apenas reagindo a uma invasão de seus territórios.
O problema aqui é a total falta de criatividade do roteiro do próprio diretor, que se limita a refilmar um de seus primeiros longas, ASSALTO À 13º DP, que já não era nada mais do que uma releitura do western clássico RIO BRAVO, de Howard Howks, contando basicamente a mesma história: um grupo de policiais e civis é encurralado dentro de uma delegacia por uma gangue de bandidos que querem matá-los. A única diferença é que o filme passa-se em Marte e os vilões são humanos cujos corpos foram possuídos pelos antigos moradores do planeta.
Essa falta de novidade ou frescor deixa o filme com um gosto de café requentado, impedindo o espectador de envolver-se na trama ou interessar-se pela sorte dos heróis - mesmo porque fica claro desde o início que todos morrem, exceto a policial feita pela bela Natasha Henstridge que conta a história em flash-back. Outro erro foi a escolha do inexpressivo e obeso rapper Ice Cube para interpretar o marginal "Desolation" Williams, que acaba ajudando os heróis mesmo com relutância. Sua falta de carisma e impassividade prejudicam o desenrolar do roteiro, deixando tudo ainda mais frio e inócuo.
Os zumbis-marcianos também não convencem, limitando-se a grunhir e urrar sob efeitos de maquiagem que os deixam parecidos com um bando de metaleiros enlouquecidos - a figura central já é um sósia do grotesco Marilyn Manson. Mesmo a trilha sonora, do próprio Carpenter, é repleta de solos de grupos heavy-metal como Anthrax, Buckethead e Steve Vay, acentuando ainda mais o clima de total non-sense e loucura.
Obviamente não é o tipo de filme que deva ser levado a sério ou analisado profundamente, já que o próprio Carpenter parece ter orgulho de ter virado uma espécie de "Rei do Trash". Até ai tudo bem. Infelizmente em FANTASMAS DE MARTE nada funciona muito bem e o filme acaba sendo apenas uma aventura com toques de terror banal, sem grandes lances, sacadas ou reviravoltas que justifiquem sua produção. Uma verdadeira decepção.
Cotação: **
sábado, 26 de julho de 2025
10 Sinais de AUTISMO Que EU Ignorava
Você se sente como um "diferente" em meio a pessoas "normais"? Ou talvez você se esforce tanto para se encaixar que o cansaço virou seu companheiro constante? Este vídeo é um grito de esperança para você que se questiona, se sente diferente, ou que, por muito tempo, teve seus traços confundidos com "frescura", ansiedade ou até mesmo TOC.
É hora de desmascarar a verdade sobre o autismo em adultos e entender por que muitos sinais são ignorados pela sociedade, e até por nós mesmos.
Neste conteúdo revelador, vamos mergulhar nos 10 sinais mais comuns e frequentemente negligenciados do autismo em adultos, desde a dificuldade com pistas sociais implícitas – que transformam flertes e conversas casuais em enigmas indecifráveis – até a exaustão profunda causada pela "máscara social".
Abordaremos o poder dos hiperfocos, a rigidez cognitiva que transforma pequenas mudanças em grandes desafios, e a sensibilidade sensorial que faz com que cheiros e sons "normais" sejam uma tortura. Prepare-se para uma jornada de autoconhecimento que pode virar sua vida de cabeça para baixo... para melhor!
Entender esses sinais não é apenas sobre um diagnóstico; é sobre validação, sobre encontrar sua tribo e, finalmente, compreender que suas "diferenças" são, na verdade, características de uma mente neurodivergente incrível.
Este vídeo é um convite para desmistificar estereótipos e promover a inclusão, mostrando que o autismo adulto é muito mais comum e diversificado do que se pensa. Chega de sofrer em silêncio ou se sentir "errado".
sábado, 19 de julho de 2025
AUTISMO NÃO DIAGNOSTICADO (QUASE) DESTRUIU MINHA VIDA
Diagnóstico traz alívio, mas também profunda tristeza por entender que poderia ter tido uma vida totalmente diferente se tivesse sido descoberto antes.
quinta-feira, 17 de julho de 2025
Novo "Superman" é divertido, mas não chega aos pés da versão de 1978
Furos no roteiro, excesso de piadas e trilha musical abaixo do medíocre atrapalham o que poderia ter sido uma volta triunfal do homem de aço.
domingo, 6 de julho de 2025
"F1" faz bom uso dos clichês e diverte
sábado, 31 de maio de 2025
Ajudem a família do Pirulla que sofreu um AVC e está na UTI
PIX de ajuda ao Pirulla e familiares: pirula1408@gmail.com
quinta-feira, 29 de maio de 2025
Filmes: "Animais Noturnos" (*spoilers*)
MONSTROS HUMANOS
"Quem são esses animais noturnos que, travestidos de seres humanos, andam pelo mundo destruindo a vida de quem ousa amá-los, sem compaixão, empatia ou remorso?", questiona o diretor Tom Ford.
- por André Lux, crítico-spam
“Animais Noturnos” é um filme brutal, difícil de assistir, porém excepcional na forma como traduz em palavras e imagens a dor experimentada por alguém que teve sua vida destruída por uma pessoa na qual confiava cegamente e para a qual se entregou de corpo e alma.
"Quem são esses monstros que, travestidos de seres humanos, andam livremente pelo mundo destroçando a vida de quem ousa amá-los, sem qualquer traço de compaixão, empatia ou remorso?", questiona o diretor e roteirista Tom Ford.
Trata-se de um “filme dentro de um filme”, no qual a protagonista Susan (feita pela doce Amy Adams) recebe o manuscrito de um livro escrito pelo seu ex-marido Edward (Jake Gyllenhaal, perfeito com sua eterna cara de bom moço), que ela traiu e abandonou no momento em que ele estava mais fragilizado em troca de uma vida frívola ao lado de um homem arrogante e ambicioso, tudo que o outro não era.
Uma das cenas mais emblemáticas do filme se dá quando Susan vai jantar com sua mãe conservadora, racista, homofóbica e que é totalmente contra seu casamento com Edward, o qual ela julga “fraco e pobre”, fatores que, segundo ela, hoje encantam a filha, mas que com o tempo vão afastá-la dele. “Não sou como você, mãe”, responde a moça, recebendo como resposta a lapidar frase: “Não é agora, querida. Mas no final, todas nos tornamos iguais aos nossos pais”.
Embora rica e vivendo uma vida regada a festas e vernissages (ela e o marido são promotores de artes), Susan é infeliz, vazia e vê seu marido tornando-se cada vez mais frio e distante, ao ponto de nem tentar disfarçar mais que a trai regularmente com mulheres mais novas.
Ao mesmo tempo em que lê o livro angustiada, Susan vai relembrando de sua vida ao lado de Edward, da cumplicidade e do amor que sentiam um pelo outro e, principalmente, da maneira fria e calculista com que o abandonou, jogando nas costas dele todos os motivos pelo suposto fracasso da relação (ele é "fraco", humilha ela). Não bastasse isso, ela faz um aborto e mata o filho dos dois, já acompanhada e motivada pelo novo namorado.
Graças à leitura do livro e das memórias da vida anterior, Susan começa a se sentir humana novamente e marca um encontro com Edward em um restaurante chique, só para ficar horas esperando por ele, que não aparece. O filme termina com um close de sua face angustiada. Só ali, no final, é que ela se dá conta do que se tratava realmente a estória narrada no livro do ex-marido: ao abandoná-lo e tirar o filho dele, ela destruiu sua vida, o matou de certa forma, assim como fizeram os psicopatas no livro ao matarem a família do protagonista.
Assim, o livro de Edward era de certa forma uma catarse e também uma vingança, pois mostrava que no final das contas quem havia morrido era Susan, justamente por ter matado a única coisa realmente boa que teve na vida. E tudo isso em troca de frivolidades e da busca por prazeres mundanos totalmente desprovidos de humanidade e de sentido. O desespero demonstrado por Amy Adams na cena derradeira de “Animais Noturnos” é a constatação de que a protagonista havia, afinal, entendido que era ela quem estava morta em vida há muito tempo e não Edward, como ela e o atual marido costumavam debochar.
Infelizmente, esse tipo de “revelação” só acontece nos filmes, já que os “animais noturnos” como os descritos na obra são, com raríssimas exceções, incapazes de autocrítica e jamais entenderão ou mesmo se importarão com as vidas que destruíram em seu caminho rumo à conquista de suas ambições fugazes, sejam elas quais forem. Todavia, a arte permite às pessoas que passaram por esse tipo de experiência monstruosa que se expressem e se conectem com outros, promovendo ao menos algum tipo de reflexão e regozijo ao saber que não estão sozinhas. E ainda dá uma bofetada na cara dessa atual sociedade do consumo onde sensibilidade e fragilidade são cada vez mais rotuladas como fraqueza, principalmente nos homens.
“Animais Noturnos” é um daqueles filmes que vão passar em branco para a maioria das pessoas, até porque tem um final aberto e vai exigir um mínimo de inteligência do espectador para conectar os pontos e fechar o quadro maior, algo cada vez mais raro nos dias de hoje.
É um prato violento, angustiante e difícil de digerir, mas é uma experiência visceral que, de certa forma, ajuda a encarar monstros internos que só serão realmente derrotados quando forem entendidos e, acima de tudo, perdoados. Algo que eles jamais fariam a si mesmos caso tivessem algum tipo de consciência.
Cotação: * * * * *
"Quem são esses animais noturnos que, travestidos de seres humanos, andam pelo mundo destruindo a vida de quem ousa amá-los, sem compaixão, empatia ou remorso?", questiona o diretor Tom Ford.
- por André Lux, crítico-spam
“Animais Noturnos” é um filme brutal, difícil de assistir, porém excepcional na forma como traduz em palavras e imagens a dor experimentada por alguém que teve sua vida destruída por uma pessoa na qual confiava cegamente e para a qual se entregou de corpo e alma.
"Quem são esses monstros que, travestidos de seres humanos, andam livremente pelo mundo destroçando a vida de quem ousa amá-los, sem qualquer traço de compaixão, empatia ou remorso?", questiona o diretor e roteirista Tom Ford.
Trata-se de um “filme dentro de um filme”, no qual a protagonista Susan (feita pela doce Amy Adams) recebe o manuscrito de um livro escrito pelo seu ex-marido Edward (Jake Gyllenhaal, perfeito com sua eterna cara de bom moço), que ela traiu e abandonou no momento em que ele estava mais fragilizado em troca de uma vida frívola ao lado de um homem arrogante e ambicioso, tudo que o outro não era.
Uma das cenas mais emblemáticas do filme se dá quando Susan vai jantar com sua mãe conservadora, racista, homofóbica e que é totalmente contra seu casamento com Edward, o qual ela julga “fraco e pobre”, fatores que, segundo ela, hoje encantam a filha, mas que com o tempo vão afastá-la dele. “Não sou como você, mãe”, responde a moça, recebendo como resposta a lapidar frase: “Não é agora, querida. Mas no final, todas nos tornamos iguais aos nossos pais”.
Embora rica e vivendo uma vida regada a festas e vernissages (ela e o marido são promotores de artes), Susan é infeliz, vazia e vê seu marido tornando-se cada vez mais frio e distante, ao ponto de nem tentar disfarçar mais que a trai regularmente com mulheres mais novas.
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A mãe à filha: "Eu sou você, amanhã" |
Já o livro do ex-marido mostra uma família composta por um casal e sua filha viajando pelas estradas do Texas de noite. A uma certa altura, são abordados por caipiras bêbados liderados por um psicopata que acabam estuprando e matando as duas mulheres, deixando Edward para viver com a culpa e a dor de não ter tido forças para reagir e salvar a sua família (ele foi “fraco”). A investigação é comandada por um policial feito pelo Michael Shannon, o Zod do horrível “Homem de Aço”, que vai encontrando os criminosos um a um, sempre com a presença de Edward. No final, o protagonista mata os assassinos de sua família, mas acaba também morrendo no processo.
Ao mesmo tempo em que lê o livro angustiada, Susan vai relembrando de sua vida ao lado de Edward, da cumplicidade e do amor que sentiam um pelo outro e, principalmente, da maneira fria e calculista com que o abandonou, jogando nas costas dele todos os motivos pelo suposto fracasso da relação (ele é "fraco", humilha ela). Não bastasse isso, ela faz um aborto e mata o filho dos dois, já acompanhada e motivada pelo novo namorado.
Graças à leitura do livro e das memórias da vida anterior, Susan começa a se sentir humana novamente e marca um encontro com Edward em um restaurante chique, só para ficar horas esperando por ele, que não aparece. O filme termina com um close de sua face angustiada. Só ali, no final, é que ela se dá conta do que se tratava realmente a estória narrada no livro do ex-marido: ao abandoná-lo e tirar o filho dele, ela destruiu sua vida, o matou de certa forma, assim como fizeram os psicopatas no livro ao matarem a família do protagonista.
Assim, o livro de Edward era de certa forma uma catarse e também uma vingança, pois mostrava que no final das contas quem havia morrido era Susan, justamente por ter matado a única coisa realmente boa que teve na vida. E tudo isso em troca de frivolidades e da busca por prazeres mundanos totalmente desprovidos de humanidade e de sentido. O desespero demonstrado por Amy Adams na cena derradeira de “Animais Noturnos” é a constatação de que a protagonista havia, afinal, entendido que era ela quem estava morta em vida há muito tempo e não Edward, como ela e o atual marido costumavam debochar.
Infelizmente, esse tipo de “revelação” só acontece nos filmes, já que os “animais noturnos” como os descritos na obra são, com raríssimas exceções, incapazes de autocrítica e jamais entenderão ou mesmo se importarão com as vidas que destruíram em seu caminho rumo à conquista de suas ambições fugazes, sejam elas quais forem. Todavia, a arte permite às pessoas que passaram por esse tipo de experiência monstruosa que se expressem e se conectem com outros, promovendo ao menos algum tipo de reflexão e regozijo ao saber que não estão sozinhas. E ainda dá uma bofetada na cara dessa atual sociedade do consumo onde sensibilidade e fragilidade são cada vez mais rotuladas como fraqueza, principalmente nos homens.
“Animais Noturnos” é um daqueles filmes que vão passar em branco para a maioria das pessoas, até porque tem um final aberto e vai exigir um mínimo de inteligência do espectador para conectar os pontos e fechar o quadro maior, algo cada vez mais raro nos dias de hoje.
É um prato violento, angustiante e difícil de digerir, mas é uma experiência visceral que, de certa forma, ajuda a encarar monstros internos que só serão realmente derrotados quando forem entendidos e, acima de tudo, perdoados. Algo que eles jamais fariam a si mesmos caso tivessem algum tipo de consciência.
Cotação: * * * * *
sábado, 26 de abril de 2025
"Pecadores" mistura vários gêneros e vira uma salada indigesta
Novo filme do diretor de "Creed" e "Pantera Negra" erra ao enfiar conteúdo sobrenatural em trama realista sobre a vida dos negros após a escravidão.
Vídeo: “Adolescência” mostra como a extrema-direita torna jovens desajustados em potenciais assassinos
Série é um soco no estômago que serve como alerta para sobre o tipo de pessoas que estão sendo criadas nos submundos da internet.Série é um soco no estômago que serve como alerta para sobre o tipo de pessoas que estão sendo criadas nos submundos da internet.
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